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Reflexão do Evangelho do 2º Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2025 - As Bodas de Caná

Bodas de Caná da GalileiaO milagre de Caná carrega um simbolismo extraordinário: simboliza a vida e a missão do Senhor. Também aponta para a Aliança, o casamento, a união, a comunhão que Jesus veio realizar entre Deus e a humanidade. A comunhão com Deus é, sem sobre de dúvidas, aquele vinho melhor que Deus guardou até a plenitude dos tempos. A vontade de Deus em nossas vidas é a felicidade, que consiste nessa comunhão de vida e de amor entre nós e Deus. 

Como nos diz o evangelista João, o conhecido milagre das bodas de Caná é o "[...] início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em Caná da Galileia e manifestou a sua glória [...]" (Jo 2,11). Esse evento somente é narrado no quarto Evangelho e, neste, os milagres são chamados de sinais. Via de regra, a distinção entre milagres sinais é colocada sob o seguinte prisma:

  • Milagres são as intervenções salvíficas de Deus na história humana em situações de crise, sendo atos de poder que revelam o auxílio de Deus; ou seja, são acontecimentos extraordinários que não possuem explicação científica;
  • Sinais são algo mais amplo, são experiências que demonstram o poder de Deus, se caracterizando por eventos que identificam e anunciam outros grandes eventos; portanto, são experiências que servem para suscitar a fé e lembrar aos filhos de Deus que todas as maravilhas que o Senhor fez por nós.

Nesse sentido, no Evangelho de João, a intenção dos sinais é a de demonstrar que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus. Não é um "presságio" ou uma "adivinhação", mas algo vindouro.

No Evangelho do 2º Domingo do Tempo Comum deste ano de 2025, há diversos elementos interessantes e que chamam a atenção: 

  • Um casamento;
  • Um convite;
  • O vinho que falta;
  • O mestre-sala;
  • Os servos;
  • As 6 talhas de pedra;
  • A água;
  • O vinho bom;
  • A intercessão de Maria.

Quando falamos de casamento, falamos de aliança. Por isso, um dos simbolismos mais importantes do Evangelho das Bodas de Caná é justamente a aliança que Deus faz com a humanidade. Em um primeiro momento, aparece a Antiga Aliança (o Antigo Testamento) que é representada pelas seis talhas de água. Na literatura apocalíptica, da qual o evangelista faz uso em suas escritas, apresenta uma série de simbologia em relação aos números. Para entender melhor, temos um artigo que esclarece sobre certos números utilizados nas Escrituras. Você pode ler esse artigo clicando aqui.

É possível perceber ao menos duas interpretações para essa passagem. A primeira faz referência à Antiga Aliança e que explica o texto de forma literal do modo como ele está escrito. Jesus foi a uma festa de casamento em uma comunidade, realizando ali seu primeiro sinal: a transformação da água em vinho, a pedido de Nossa Senhora. Já a segunda interpretação faz-nos aprofundar ainda mais no mistério salvífico de Deus para com a humanidade. 

Assim como as mais variadas curas e os milagres relatados nos quatro Evangelhos, o episódio das Bodas de Caná está relacionado àquela passagem em que Jesus compadece-se do povo porque são como que "ovelhas sem pastor". Nesse sentido, o relato das Bodas de Caná apresentam diversas características da Literatura Apocalíptica que apresentam como que uma crítica ao judaísmo e, principalmente, às condutas dos chamados "mestres" da época. 

No contexto judaico, um casamento é uma festa comunitária. Uma festa muito alegre e também muito aguardada por todos, não somente os familiares, mas pela comunidade, ainda mais quando pensamos que as cidades, exceto aquelas grandes, eram habitadas por poucas pessoas e que tinham conhecimento e relacionamento umas com as outras. Uma festa de casamento era tão importante que durava, no mínimo, uns sete dias e para ela vinham os parentes e os amigos de perto e de longe. A festa de casamento também recorda a renovação da Aliança entre Deus e a humanidade.

É interessante também notarmos que, no Evangelho de João, Maria aparece somente em dois momentos: nesse relato, logo no início do Evangelho, e depois no final do Evangelho, quando a encontramos aos pés da cruz. Nesse primeiro momento, Maria é uma das convidadas e já estava presente na festa. E assim ela também estará no momento definitivo da vida de seu filho. Maria é, portanto, a que está presente no início e no fim da nossa história, uma vez que tornou-se mãe da Igreja.

Outro símbolo importante em uma festa de casamento era o vinho. O vinho, nas tradições antigas, representava o amor e a alegria. Um casamento que não tinha mais vinho era um casamento que também já não tinha mais amor e nem alegria. Por isso a preocupação de Maria: ela toma as dores daquela família e pressente não somente a vergonha que irão passar, mas, sobretudo, a falta de amor e de alegria que aquela aliança poderá vir a sofrer. Nesse sentido, as Bodas de Caná simbolizam a Antiga Aliança, que está perdendo o seu vinho e sua alegria: tornando-se "como ovelhas sem pastor". 

Maria toma a iniciativa e é chamada, por Jesus, como "Mulher". Um filho jamais trataria a mãe por esse substantivo, apenas o marido a chamava por "mulher". Isso significa que Maria representa toda a humanidade, enquanto Jesus é, na Nova Aliança, o esposo. 

E naquele "fazei tudo o que ele vos disser" representa todo o ensinamento e tudo o que Jesus dirá a partir de agora. É o chamado a todo discípulo a abrir seus ouvidos e colocar a vontade de Deus em sua própria vontade. Também na Antiga Aliança o povo disse: "Faremos tudo o que o Senhor disser" (Ex 19,8; 24,7).

Já as talhas de pedra representam as normas judaicas. Estão secas, vazias, são imperfeitas - aqui temos o número seis que, na Literatura Apocalíptica representa a imperfeição. Aqui vemos uma crítica bastante direta ao judaísmo: está seco, vazio, imperfeito, não corresponde mais aos anseios do povo, não dá mais respostas, só os torna ainda mais "ovelhas sem pastor". Ovelhas sem rumo, ressequidas e sedentas daquela água que vai ser transformada em vinho, que trará uma nova perspectiva, encherá o vazio que existe no povo, saciará a sequidão. Outra referência às talhas de pedra está na Lei, que vinha escrita em talhas de pedra e que eram para a purificação dos judeus. Mas, como já refletimos, a Lei já não exercia mais essa função, já não realizava mais a sua tarefa, porque estava... vazia!

Agora precisamos imaginar como encher seis talhas de pedra cada uma com capacidade para até 100 litros. Ao todo são 600 litros de água. E elas são enchidas até as bordas. A água não só representa a vida. Na Literatura Joanina a água é o Espírito Santo. É Ele quem traz a alegria e o amor de volta à Aliança. Dá uma nova perspectiva na vida daquelas pessoas tão sedentas de Deus, de um pastor. E esse vinho novo vem em abundância, demonstrando a Nova Lei, que será o Mandamento Novo! "Amai-vos uns aos ourtos como eu vos amei" (Jo 13,34). Essa mesma água que jorará no lado aberto do peito de Jesus, junto com o sangue, é o simbolismo da Eucaristia: da vida nova em Cristo, da Aliança Nova... 

O mestre-sala é uma figura importante também dentro deste relato: ele não sabe de nada, mas era quem organizou a festa. É o símbolo dos fariseus, dos mestres da lei, que não percebem a falta de amor e de alegria no meio do povo. Ao servir o vinho bom e depois o ruim, azedavam a vida do povo transformando a alegria e o amor em ausência, desânimo, falta de fé.

Por outro lado, os serventes sabiam do que estava acontecendo. Eles representam o povo, o novo povo de Deus que acolhe sua Palavra. São os primeiros a presenciar o milagre e a descobrir aquele vinho novo trazido pelo Espírito Santo. É o vinho bom, o melhor, aquele que não embriaga de coisas tóxicas, que não traz a ressaca no dia seguinte, mas que embriaga da presença de Deus, de seu amor e de sua alegria.

Por fim, o objetivo desse sinal é o de fazer com que os discípulos creiam no Senhor. Nesse sentido, o verbo "crer" perpassa grandes momentos dentro do Evangelho de João. Ele é fundamental no seguimento de cada discípulo.

 

Crédito da imagem: Nos Caminhos do Senhor.

Tempo Comum, Ano B, reflexões, Evangelho de Marcos

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