Reflexão do Evangelho do 6º Domingo do Tempo Comum - Ano C - São Lucas - 2025

Dentro da liturgia deste domingo, Jesus nos apresenta as conhecidas Bem-aventuranças, que são a boa notícia que Jesus traz ao povo, aos quais e pelos quais o Senhor anuncia a realização das promessas de Deus. É esse o modo divino de nos salvar: ofecendo-nos seu amor e sua misericórdia. Enquanto, na maioria das vezes, procuramos nossa felicidade em bens materiais, riquezas, honrarias, poder, prazeres, entre tantos outros, Jesus vai ao encontro das vítimas dos ídolos da sociedade. 

6º Domingo do Tempo Comum
Ano C
Evangelho: Lc 6,17.20-26
Cor litúrgica: Verde.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas
Naquele tempo,

¹⁷ Jesus desceu da montanha com os discípulos
e parou num lugar plano.
Ali estavam muitos dos seus discípulos
e grande multidão de gente
de toda a Judeia e de Jerusalém,
do litoral de Tiro e Sidônia.

²⁰ E, levantando os olhos para os seus discípulos, disse:
"Bem-aventurados vós, os pobres,
porque vosso é o Reino de Deus!

²¹ Bem-aventurados, vós que agora tendes fome,
porque sereis saciados!
Bem-aventurados vós, que agora chorais,
porque havereis de rir!

²² Bem-aventurados, sereis,
quando os homens vos odiarem,
vos expulsarem, vos insultarem
e amaldiçoarem o vosso nome,
por causa do Filho do Homem!

²³ Alegrai-vos, nesse dia, e exultai
pois será grande a vossa recompensa no céu;
porque era assim
que os antepassados deles tratavam os profetas.

²⁴ Mas, ai de vós, ricos,
porque já tendes vossa consolação!

²⁵ Ai de vós, que agora tendes fartura,
porque passareis fome!
Ai de vós, que agora rides,
porque tereis luto e lágrimas!

²⁶ Ai de vós quando todos vos elogiam!
Era assim que os antepassados deles
tratavam os falsos profetas".
Palavra da Salvação.

A Semente na Terra

O Evangelho de hoje é a versão lucana das bem-aventuranças. Diferente de Mateus, que apresenta nove bem-aventuranças (cf. Mt 5,3-11), Lucas registra apenas quatro, seguidas de quatro "maldições" (cf. Lc 6,24-26). As bem-aventuranças são a Carta Magna do Reino de Deus. Jesus inverte a lógica do pensamento dominante. Elas são um convite à fé e à esperança: impulsos que não encontram espaço nos corações saciados.

- Parou num lugar plano: Diferente de Mateus (cf. Mt 5,1), onde as bem-aventuranças são proclamadas na montanha, em Lucas, o discurso é na planície.

- Bem-aventurados vós, os pobres: Aos pobres é anunciada a boa notícia do Evangelho (cf. Lc 4,18; 7,22) e a eles também é destinado o Reino de Deus. Eles serão os convidados para o banquete (cf. 14,21). O mundo os exclui; no Reino de Deus eles são acolhidos. Mas, quem são os pobres? Evidente qu não são somente os pobres economicamente falando, mas todos aqueles que escutam e seguem as Palavras de Jesus.

- Bem-aventurados vós, que agora tendes fome: Maria, no Magnificat, já exultou diante desta bem-aventurança: "Deus cumula de bens os famintos" (Lc 1,53). No Reino de Deus, quando houver a partilha e a justiça, os famintos terão o pão necessário para viver. É o que Jesus vai ensinar na multiplicação dos pães (cf. Lc 9,12-17), onde todos comeram e ficaram saciados e ainda houve sobras.

- Bem-aventurados vós, que agora chorais: O Deus que se revelou é aquele que ouviu o clamor e a dor do seu povo na sua aflição no Egito (cf. Ex 3,7). Jesus também se compadecerá das pessoas que sofrem e choram. Só Lucas menciona Jesus se dirigindo às pessoas que sofrem e choram: a mãe que chora pela perda do filho (cf. Lc 7,13); os que choravam diante da morte da filha de Jairo (cf. 8,52); da mulher que chora e lava os seus pés com suas lágrimas (cf. 7,38); às mulheres que o acompanhavam no caminho da cruz (cf. 23,28). As lágrimas dos sofredores serão transformadas em alegria.

- Bem-aventurados sereis, quando os homens vos odiarem: A quarta bem-aventurança não descreve mais um estado social, mas as situações dos discípulos e da Igreja que será perseguida (cf. At 4,1-21; 5,17-42) como o próprio Jesus. "Se sofreis por fazer o bem, felizes sois!" (1Pd 3,13).

- Ai de vós...: Esta expressão é tomada dos profetas (Am 5,18; Is 3,19; Jr 22,13; etc). Eram oráculos lançados quando Deus estava cansado da infidelidade do seu povo, sobretudo dos líderes. São denúncias contra aqueles que se iludem em sua fé religiosa pensando que Deus está ao seu lado.

- Ai de vós, ricos: No Magnificat, Maria já avisou: "Deus despede os ricos de mãos vazias" (Lc 1,53). São aqueles que acumulam injustamente e esquecem dos seus irmãos mais necessitados. São aqueles que consideram a religião como algo privado, como uma bênção de Deus e acham que podem ser felizes enquanto seus irmãos sofrem carência e necessidade.

- Ai de vós, que agora tendes fartura: Jesus não condena nem o possuir bens justos e ne a saciedade. Todos devem ter vida em abundância. A condenação é do sistema diabólico que produz a riqueza à custa do sacrifício da vida dos pobres.Condena as mesas fartas e que desperdiçam, enquanto os pobres morrem de fome.

- Ai de vós, que agora rides: A felicidade dos ricos não pode ser à custa da dor e da vida amarga dos pobres; daqueles que alegram das desgraças dos mais frágeis, também denunciada na Carta de Tiago (5,1-6).

- Ai de vós quando vos elogiam: Jesus adverte contra o perigo do elogio falso e interesseiro. E lembra o que já foi feito com os Profetas que foram odiados pela sua fidelidade (Isaías, Jeremias, Amós, Miqueias...), ao contrário dos falsos profetas que foram bajulados (cf. Jr 23,9-40).

As bem-aventuranças são o Evangelho, a boa notícia que Jesus dá aos pobres, aos quais e pelos quais ele anuncia a realização das promessas. É o juízo divino sobre a realidade humana. Elas revelam o seu modo de avaliar a realidade, o oposto do nosso. Revelam o modo como Deus quer salvar-nos. Tão diferente do que imaginamos. Por isso, as bem-aventuranças náo devem ser lidas em chave moral ou, pior ainda, moralística, como se Jesus estivesse aí nos ensinando o que "deve ser feito". Elas são justamente o contrário. Ensinam o que Deus faz e como age na história humana. Quem são as pessoas bem-aventuradas hoje? E quem são aqueles que deveriam ouvir: "Ai de vós..."?

Fonte: O Pão Nosso de Cada Dia - Subsídio Litúrgico-Catequético Diário. Ano XX - n° 230, fevereiro de 2025, sessão A Semente na Terra, pp. 62-63.
Crédito da imagem: Paróquia Nossa Senhora do Rosário - Vila Velha (ES).