Reflexão do Evangelho do 30° Domingo do Tempo Comum - Ano B (São Marcos) - 2024
Em nossa vida espiritual estamos sempre tentados a deixar muitas cegueiras aparecerem. A exemplo do cego de Jericó, aprendamos a ir ao encontro do Senhor, não ficarmos parados acomodados à margem da estrada. O Senhor nos convida a caminhar com ele: enxergando e escutando o seu plano de amor em nossas vidas.
EVANGELHO
Senhor, que eu veja!
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 10,46-52.
Naquele tempo,
46 Jesus saiu de Jericó,
junto com seus discípulos e uma grande multidão.
O filho de Timeu, Bartimeu, cego e mendigo,
estava sentado à beira do caminho.
47 Quando ouviu dizer que Jesus, o Nazareno,
estava passando, começou a gritar:
"Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!"
48 Muitos o repreendiam para que se calasse.
Mas ele gritava mais ainda:
"Filho de Davi, tem piedade de mim!"
49 Então Jesus parou e disse:
"Chamai-o".
Eles o chamaram e disseram:
"Coragem, levanta-te, Jesus te chama!"
50 O cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus.
51 Então Jesus lhe perguntou:
"O que queres que eu te faça?"
O cego respondeu:
"Mestre, que eu veja!"
52 Jesus disse: "Vai, a tua fé te curou".
No mesmo instante, ele recuperou a vista
e seguia Jesus pelo caminho.
Palavra da Salvação.
O Evangelho deste domingo coloca-nos diante de uma reflexão importante: quais têm sido as nossas cegueiras? Temos nos acomodado com elas? Ou temos nos colocado no caminho de colocar os demais sentidos em alerta para perceber que o Senhor está passando e que é capaz de arrancar da nossa vida tudo aquilo que nos impede de vê-lo e segui-lo?
Jesus começou uma jornada rumo a Jerusalém com seus discípulos e uma multidão que o seguia. Chegou à cidade de Jericó, conhecida por nós como aquela cujas muralhas caíram após a oração insistente do povo de Israel. Na saída de Jericó, Jesus depara-se com a figura de um cego, que não tem nome, mas que é filho de "Timeu" (bar, em hebraico, significa filho, portanto: "bar-timeu" = filho de Timeu"). Como é cego, o homem não enxerga, encontra-se à beira da estrada, certamente pedindo esmolas, mas consegue ouvir quando Jesus passa e grita ao Senhor para que dele tenha compaixão, ou seja, que, com ele, também sofra ("paixão" vem de "passio" que, em latim, significa sofrimento). Jesus, então, responde ao cego com uma pergunta: "Que queres que eu te faça?" (Mc 10,36.51). Bartimeu vê quem Jesus é, não com os olhos físicos, mas com os olhos da fé. Enxerga Jesus com muito mais clareza que os que o enxergam com a visão física.
Enquanto Jesus, os discípulos e a multidão estão percorrendo um caminho, o cego de Jericó está à margem, foi tirado do caminho. Entretanto, quer retomar também sua caminhada, mas é impedido pelos demais. Nos dias de hoje, será que nós também não temos impedidos muitos irmãos a voltarem para o caminho de Cristo? Bartimeu está cego e, certamente excluído, vive na penúria, vive de esmolas, nem nome possui e é conhecido pelo nome de seu pai, tamanha é a exclusão deste homem. Ele não enxerga, mas escuta e por isso sabe que Jesus está ali.
Percebamos um contraponto aqui: Bartimeu, de um lado, homem excluído, jogado à margem, cego e sem nome; do outro lado, estamos nós que possuímos visão boa, mas não conseguimos escutar o que o Senhor diz, "não escutamos" (= não percebemos) a sua presença. Em nossas arrogâncias e nossas prepotências, estamos mais cegos que o filho de Timeu.
Jesus, a caminho de Jerusalém, não se deixa levar pelas preocupações da caminhada e de seus desafios. Está atento ao grito daquele cego da cidade de Jericó. Por isso, ele para e escuta o que o cego tem a dizer, pois entende que ali também encontra-se alguém amado por Deus. Enquanto isso, do outro lado, estão os que se incomodam com os menos favorecidos e que nem se importam com seus sofrimentos e ainda querem silenciar seu grito.
E vamos mais além ainda nesta reflexão: no Evangelho de Marcos, o filho de Timeu é a única pessoa que chama Jesus de "Mestre" (= "Rabbuni" ou "Rabôni"). O cego de Jericó expressa com sinceridade sua afeição de discípulo pelo seu Mestre: uma maneira especial de se dirigir a Jesus e que aparece no Novo Testamento apenas nessa passagem e na passagem de Maria Madalena quando encontra o Ressuscitado perto do túmulo vazio (cf. Jo 20,16).
O Evangelho deste 30° Domingo do Tempo Comum chama nossa atenção para percebermos nossa cegueira. Percebermos as vezes em que também nos colocamos ou nos deixamos colocar à beira do caminho. Faz-nos refletir também sobre como estão os nossos outros sentidos, principalmente nossa escuta da Palavra do Senhor. Jesus também nos chama a levantarmos da beira do caminho, a assumirmos nossa caminhada com ele.
A santidade é um caminho: sendo caminho, é preciso ir passo a passo, abandonando nessa cegueira e nossa surdez. Assim como o cego de Jericó, sejamos desejosos para enxergar, para, principalmente, ver que somos pecadores e que somos necessitados da luz que vem do Senhor. Mas não esperemos que tudo "caia do céu", não sejamos preguiçosos e acomodados. Na caminhada com Deus é preciso dar a nossa contribuição.
As leituras deste domingo sejam realmente um encorajamento para nós. Alimentemos nossa fé, fortaleçamos nossa esperança e concretizemos a vontade de Deus através da nossa caridade. Essas três virtudes teologias são essenciais na nossa vida de seguidores de Jesus Cristo. Busquemos sempre a fortaleza de Deus para que não nos deixemos cegar.
Padre Anderson Rodrigo de Oliveira.
Crédito da imagem: Missionárias Xaverianas de Maria.
Ano B, Evangelho de São Marcos, Liturgia da Palavra
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