Ai de vós, ricos, porque já tendes vossa consolação
Acompanhemos a meditação de São Basílio de Cesareia* sobre um dos aspectos do chamado Sermão das Bem-Aventuranças segundo o Evangelho de São Lucas.
"AI DE VÓS, RICOS, PORQUE JÁ TENDES A VOSSA CONSOLAÇÃO" (Lc 6,24)
Até quando as riquezas que provocam guerras e para as quais são fabricadas armas e afiadas as espadas? Por causa delas os parentes ignoram os laços familiares, os irmãos se olham com olhar homicida; por causa das riquezas, os desertos nutrem os homicidas, o mar os piratas, as cidades os delatores. Quem é o pai da mentira? Quem criou os falsários? Quem gerou os falsos juramentos? Não foi, por acaso, a riqueza? Não foi a sua busca? O que fazeis, seres humanos? Quem mudou os vossos bens em cilada em vosso prejuízo?
"Ajudam-nos a viver". As riquezas, por acaso, vos foram dadas como recurso para o mal? Dizes: "São um resgate da vida". Não são talvez ocasião de perdição? "Mas a riqueza é necessária por causa dos filhos". Este é um pretexto capcioso para a vossa cobiça: usais como pretexto os filhos, mas tranquilizais o vosso coração.
Não acuseis um inocente; tem o seu senhor, o seu tutor; recebeu a vida de um outro, espera dele os recursos para viver. Não é para as pessoas casadas que foi escrito: "Se queres ser perfeito, vende o que possuis e dá aos pobres" (Mt 19,21)? [...] Isso se disse para quem tem filhos; que não tem filhos que outro capcioso pretexto se apresentará para a sua avareza?
"Não vendo o que possuo e não o dou aos pobres porque preciso para viver". Mas então o Senho não é teu mestre, o Evangelho não é tua regra de vida, mas tu mesmo és lei para ti mesmo. Vê em que perigo te jogas com estes teus pensamentos, porque o Senhor nos ordenou estas coisas como necessárias e tu, ao contrário, as declaras impossíveis, não dizes senão que és mais sábio que o Legislador.
"Mas, depois que tiver gozado das riquezas por toda a minha vida, no fim deixarei como herdeiros de todos os meus bens os pobres e os declararei proprietários deles no meu testamento". Quanto não viverás mais entre os homens, então os amarás? Quanto te verei morto, então te chamarei benfeitor dos irmãos? Muito obrigado pela tua generosidade!
Deitado no túmulo e dissolvido na terra, te tornaste generoso e magnânimo!
São Basílio de Cesareia (330-379). Homilia in divites, 7-8 (pg 31, 297a-301a).
* São Basílio de Cesareia, também conhecido e chamado de São Basílio Magno, foi bispo de Cesareia, na Capadócia e um dos mais influentes teólogos a apoiar o Credo de Niceia. Foi um forte crítico às heresias da época, em especial o arianismo e contrário aos seguidores de Apolinário de Laodiceia. Soube balancear as convicções teológicas com as conexões políticas, o que fez deste homem um poderoso defensor da posição nicena (profissão de fé adotada no Concílio Ecumênico de Niceia I [325] e confirmada no Concílio Ecumênico de Constantinopla I [381], oficilizando o que passou a ser chamado de Símbolo (ou Credo) Niceno-Constantinopolitano).
Crédito da imagem: OrtodoxTime.
Meditação, Evangelho de São Lucas, Domingo do Tempo Comum
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