Na Epifania do Senhor, quem são os "Três Reis Magos"?
Há cada ano, dentro da liturgia, ou no dia 6 de janeiro, ou mesmo próximo dele, comemoramos a chamada "Epifania do Senhor".
O nome pomposo que a Igreja ainda mantém apenas significa "manifestação". Infelizmentes, ao longo da história da língua vernácula, as palavras vão perdendo seu significado original. Por isso que, ainda nos dias atuais, a Igreja procura manter os nomes no seu original, seja de forma adequada ao latim, seja de forma adequada ao grego.
Para nós, que somos católicos, a Manifestação do Senhor vai bem além de um Deus que quis assumir nossa humanidade, assumida não como forma de humilhação à humanidade, mas como forma de amor. Deus ama a cada um de nós, indepedente de nossa condição. Deus nos ama acima de nossos pecados. E não fica preocupado com os mesmos, ainda que não se agrade, mas até mesmo nós não nos contetamos com o nosso pecado.
Refletindo sobre o Evangelho de hoje, lido de Sâo Mateus, analisamos diversas questões. Existe uma grande diferença entre os Evangelhos, porque cada um deles foi escrito para um determinado grupo. No caso dos chamados Eventos da Infância de Jesus, os únicos que apresentam detalhes sobre esse momento são o Evangelho de São Mateus e o Evangelho de São Lucas.
Isso significa que os outros dois Evangelhos: Marcos e João, não teriam credibilidade?
Pelo contrário! Os quatro são Evagelhos Canônicos.
O que acontece é que, no Evangelho de Lucas, percebemos Jesus ser visitado, primeiramente, pelos Pastores. Isso porque, conforme os 4 Evangelhos, Jesus veio para os mais pequenos. Para Lucas, e para a sociedade da época, os mais pequenos eram quem? Os Pastores. Resumidamente, é por isso que, no Evangelho de Lucas, o Menino Jesus é visitado pelos pastores: ou seja, Jesus não distingue se somos, de forma material, ricos ou pobres. Isso também quer dizer acerca dos padrinhos e madrinhas: que, pelo batismo, transformam-se no segundo pai (paizinho = padrinho) e na segunda mãe (mãezinha = madrinha) para cada afilhado.
Jesus, então, nasce em meio à humanidade. Encarna-se em nossa história! E quem somos nós nesse andor?
Somos filhos, somos filhas! Pessoas muito amadas!
Nas missas, no momento do Ato Penitencial procuramos colocar diante do altar do Senhor as nossas limitações. Somente Deus conhece e sabe de nossas intenções.
Voltando ao Evangelho, temos muitos detalhes a observarmos:
- A visita dos "reis" magos: o Evangelho não cita nada em relação aos reis magos. Na verdade, nunca cita a palavra "rei". A tradição em chama-los de "reis" tem influência em Is 60, 3, que diz: "As nações caminharão na tua luz, e os reis, no clarão do teu sol nascente" e também no Salmo 72,10: "Os reis de Társis e das ilhas vão trazer-lhe ofertas [...]".
- Os tais "reis magos": em nenhum momento, o Evangelho qualifica os "magos do oriente" com os "reis magos". Também não diz quanto são. As comunidades primitivas convencionaram chamar a esses homens de "reis-magos" por volta do ano 1344. Os nomes Balthazar, Gaspar e Melquior já tinham sido citados em um documento do ano 500 d.C. chamado de "Excerpta Latina Barbari". No entanto, foi São Boaventura (1221 - 1274) quem acabou popularizando os nomes.
- O que é um "mago": para aquele tempo, os magos não eram como os que hoje estão convencionados: homens ou mulheres que lidam com magia. Os magos eram homens versados nas ciências da natureza, exímios estudiosos dos fenômenos naturais. Por isso, tinha amplo conhecimento também acerca das estrelas. Eram como que os astrônomos da época, bem como conhecedores e estudiosos da filosofia.
- O que representam: convencionou-se dizer que eram três magos por conta do número de presentes que ofertaram ao Menino Jesus - ouro, incenso e mirra. Também convencionou-se dizer que são três porque cada um era de uma das três etnias conhecidas na época, assim como dos continentes também conhecidos para a época - Europa, Ásia e África. Isso significa, no entender de Mateus, que o Menino Jesus e o projeto de salvação de Deus não está restrito somente a Israel, mas é oferecido a todos os povos. Mateus, o evangelista, escreve para comunidades mistas, formadas por judeus radicais, judeus recém convertidos e gentios (estrangeiros). Por isso também a necessidade de apresentar um messias que não é propriedade somente dos judeus. Aliás, Deus não é propriedade dessa Igreja ou daquela, mas a Igreja é que pertence a Cristo. Isso coloca-nos alguns questionamentos sobre o modo como, pessoalmente ou em nossos grupos de pastorais, movimentos ou ministérios, agimos com a pertença a Cristo. É Cristo que pertence ao movimento/pastoral/ministério ou é nosso serviço que deve ser dedicado a ele?
- Por que ouro, incenso e mirra? Os chamados Padres da Igreja, os primeiros pensadores depois do chamado período apostólico (que se encerra com a morte do último dos Apóstolos), apresentavam já o seguinte pensamento acerca dos presentes dos magos: ao ofertarem ouro, os magos reconhecem no Menino a sua realeza - Jesus vem para ser o Rei dos reis; ofertam o incenso porque reconhecem em Jesus a sua divindade, uma vez que o incenso era oferecido a Deus; por fim, a mirra é uma essência que era utilizada para embalsamar os corpos quando morriam, o que nos faz reconhecer que Jesus também é humano, pois assume a nossa condição humana, sendo o Verbo de Deus que se encarna em nossa pequenez.
Tendo em vista tudo isso, a chamada Solenidade da Epifania do Senhor apresenta para a Igreja, para cada um de nós, o grande projeto de salvação que Deus tem para com toda a humanidade. Deus encarnou-se em nossas limitações e quer, a cada momento, o nosso contributo nessa caminhada de salvação. Apresenta-se para todos os seres humanos, sem fazer distinção de raça, de cor de pele, cor de olhos etc. Mas para que esse projeto possa, de fato, ser encarnado em nossas vidas, é preciso que estejamos não só com os olhos abertos, mas com os ouvidos também atentos à sua Palavra e o coração também preparado para receber a sua manifestação em todos os momentos da nossa vida.
A Epifania do Senhor nos ensina que Deus quer ser luz nas trevas da humanidade. E quer também que nós sejamos luz nesta sociedade tão cheia de trevas.
Crédito da imagem: Niterói Mais.
Solenidade, Epifania do Senhor, magos do Oriente
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