Santo Antônio Maria Claret, bispo
O mês de outubro é conhecido no Brasil como o Mês Missionário. De fato, neste mês celebramos diversos santos que foram homens e mulheres da evangelização entre os povos. Em especial, neste dia 24, a Igreja celebra a memória de um dos grandes santos missionários da sua história: Santo Antônio Maria Claret.
Antônio João Claret y Clará, seu nome de batismo, nasceu em Sallent, na região da Catalunha, Espanha, no dia 23 de dezembro de 1807. Sua família era profundamente cristã e, dois dias após seu nascimento, na Festa da Natividade do Senhor, foi batizado na Igreja paroquial de Santa Maria. Era o quinto filho de onze do casal João e Josefa. Dos dez irmãos, cinco morreram antes de completar os cinco anos de idade.
Antônio cresceu em uma família cujo pai era dedicado à manufatura têxtil. Ainda pequeno, Antônio encontra paz de espírito e força na amizade com o Senhor, que encontra na Eucaristia, e em sua devoção à Virgem Maria, cuja capela da Virgem de Fussimanya ele visitava frequentemente com sua irmã e rezava o terço. Com apenas cinco anos de idade já pensava na miséria eterna daqueles que eram condenados. Tal sentimento impeliu Antônio a ajudar a todos a viver conforme a vontade de Deus, evitando o sofrimento eterno.
Com 12 anos de idade, ouviu o chamado de Deus para ser sacerdote. Seu pai, então, o coloca para estudar latim, mas a escola acaba sendo fechada por ordem dos governantes. Antônio, então, vai trabalhar com seu pai nos teares da família.
Ali nas manufaturas, Antônio descobre que tem talento para o trabalho têxtil. Assim, acaba indo para Barcelona, em 1825, no intuito de buscar uma formação adicional em suas habilidades têxteis. Trabalha e estuda com tamanha dedicação que isso se torna logo uma obsessão. Suas orações vão se tornando curtas e menos entusiasmadas como costumavam ser na infância.
Ainda que continue sua participação nas missas dominicais e rezando regularmente o santo terço, Antônio, gradualmente, vai se esquecendo daquele desejo anterior de tornar-se sacerdote. Entretanto, o chamado não é seu, mas de Deus.
Vivendo em Barcelona, sofre duras decepções. Uma delas é a traição de um amigo, que o rouba e também a outros. Entretanto, o jovem Antônio experimenta a proximidade da Santíssima Virgem, que o protege nas tentações e salva-o da morte, por conta de uma ocasião em que se encontrava em perigo de afogamento no mar. Mais tarde, Antônio incluirá o nome de Nossa Senhora ao seu. Ao ouvir o trecho do Evangelho de Mateus na missa: "O que vale ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a vida eterna?" (Mt 16,26), sente-se abalado e fragilizado.
Recebe diversas propostas para montar sua própria fábrica, mas recusa os desejos de seu pai de torná-lo um empresário do ramo têxtil. Decide, então, entrar para a vida religiosa, mais precisamente, para a Ordem dos Cartuxos, ordem fundada por São Bruno em 1084. Em 1829, decide entrar para o seminário de Vic, mas ainda alimentando o desejo de ser monge cartuxo.
Entretanto, em 1830, a caminho da Cartuxa de Montealegre, um forte resfriado e uma tempestade obrigam-no a retornar e seu sonho de ser monge cartuxo começa a perder forças. Antônio, então, continua seus estudos no seminário de Vic. Após sofrer uma forte tentação, vencida ao invocar o nome da Santíssima Virgem, reconhece a maternal intercessão de Nossa Senhora e decide fazer a vontade de Deus, tornando-se um missionário, um evangelizador.
Foi ordenado sacerdote aos 13 de junho de 1835, mesmo não tendo completado os estudos teológicos. Entretanto, o bispo da época, Dom Paulo de Jesus Corcuera, viu em Antônio algo de extraordinário. Retorna para Sallent e ali permanece por quatro anos, concluindo seus estudos e frequentando sua paróquia natal.
Ainda que estivesse no conforto de sua cidade natal, na companhia dos seus, Antônio sente forte chamado para deixar todo aquele conforto e seguir seu chamado para evangelizar os povos como missionário. A Catalunha, nesta época, estava dividida politicamente falando, vivenciando uma situação de guerra civil entre os que eram liberais e os carlistas. Antônio, então, decide deixar sua terra, oferecendo seus serviços à Propaganda Fidei, que era, na época, encarregada pela obra de evangelização no mundo inteiro.
Antônio vai a Roma e ali faz alguns dias dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, com os jesuítas. O diretor o encoraja a entrar para a Companhia de Jesus e, no início de 1840, quatro meses após iniciar o noviciado na Companhia, sofre dores na perna direita, que o impedem de andar. Antônio, então, vê-se orientado, pelo superior geral dos jesuítas, a retornar para a Espanha.
De volta à Catalunha, o vigário capitular da Diocese de Vic envia Antônio para a Paróquia de Viladrau. Ainda com forte anseio missionário presente em seu coração, começa no dia 15 de agosto de 1840 as missões populares em sua paróquia. Seu superior, ao perceber sua vocação ao apostolado e também os frutos de sua pregação, libera Antônio do serviço paroquial e o deixa livre para se envolver com as missões.
Em janeiro de 1841, é transferido para Vic e passa a se dedicar totalmente a percorrer as diferentes aldeias presentes na Diocese. Pede à Propaganda Fide o título de "Missionário Apostólico", que preenche com todo seu conteúdo espiritual e de apostolado.
Entre 1843 a 1848, Claret percorre grande parte da Catalunha. Nesse interim, pregou a Palavra de Deus, sempre a pé e sem coletar um centavo e nem aceitar presentes para seu ministério. É movido por um forte sentimento de imitar Cristo e os apóstolos. Ainda que neutro em questões políticas, não demora para que seja perseguido e caluniado. Em cada local que passa, não deixa de pregar as missões ao povo e de realizar retiros para os padres e para os religiosos.
Acaba descobrindo outros meio de apostolado que ajudam-no a garantir a eficácia e a continuidade dos frutos de sua missão. Utiliza-se de livros de oração públicos, catecismos e impressões destinadas aos padres, às freiras, às crianças, aos jovens, aos casados, aos pais etc. Torna-se o primeiro evangelizador a utilizar-se dos meios de comunicação para sua evangelização. Em 1848, cria a Biblioteca Religiosa, uma editora que, em seus primeiros anos, lançou mais de 2 milhões e 800 mil cópias de livros, livros pequenos e também folhetos.
Funda ou promove irmandades religiosas, como a Confraria do Imaculado Coração de Maria, escrevendo o livro "Filhas do Santíssimo e Imaculado Coração de Maria", que irá inspirar o nascimento do instituto de vida secular de filiação cordimariana.
A Guerra Carlista o impede de continuar a pregar na Catalunha. Seu superior envia-o para as Ilhas Canárias onde, de fevereiro de 1848 a maio de 1849, cobre a maior parte da chamada Ilha Gran Canária e outros dois lugares da Ilha de Lanzarote.
Começou a ser chamado e conhecido pelo povo como "el Padrito" (o Paizinho), tornando-se tão popular que, hoje, é o co-padroeiro da Diocese de Las Palmas, juntamente com a Virgem do Pino.
No dia 16 de julho de 1849, retorna para a Catalunha e, dentro do seminário de Vic, funda a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria, obra que começa de forma humilde, contando com cinco padres dotados do mesmo espírito missionário de Claret. Entretanto, poucos dias após a fundação da Congregação Missionária, no dia 11 de agosto, é nomeado Arcebispo de Santiago de Cuba. Ainda que com relutâncias, por conta das obras criadas e, principalmente, pela recém Congregação iniciada, Claret aceita o cargo, por obediência, sendo ordenado bispo no dia 6 de outubro de 1850, na Catedral de Vic.
Quando chega a Cuba, encontra uma realidade deplorável: exploração dos escravos, imoralidades pública, insegurança familiar, descontentamento com a Igreja e uma forte descristianização. Isso faz com que Claret imprima em seu ministério episcopal uma característica bastante missionária. Em seis anos percorre a maior parte da vasta Arquidiocese por três vezes.
Preocupado com a educação da juventude de sua diocese, consegue trazer para Cuba algumas instituições de assistência, como os escolápios, os jesuítas e as filhas da caridade. Juntamente com Maria Antonia Paris, funda o convento das Irmãs Missionária de Maria Imaculada, as Missionárias Claretianas, no dia 27 de agosto de 1855. Em seu episcopado na ilha, lutou bravamente contra a escravidão e também cria escolas agrícolas para as crianças pobres. Entretanto, todo esse trabalho desenvolve também confrontos, calúnias, perseguições e ataques à sua pessoa.
Os ânimos ficam tão tenso do lado dos descontentes que, no dia 1° de fevereiro de 1856, na cidade de Holguín, Claret sofre um atentado, que quase custa-lhe a vida. Em sua memória, lembra-se, com alegria, dos mártires que derramaram seu sangue por Cristo.
Em 1857, retorna para a Espanha. Ali torna-se confessor da Rainha Isabel II. Isso o força a se mudar para Madri. Estava semanalmente no palácio real para exercer seu ministério de confessor e também para lidar com a educação cristã da princesa Isabel e do príncipe Alfonso, bem como das princesas que nasceram nos anos seguintes. Nos seus serviços prestados à Coroa Espanhola, vai aos poucos conseguindo mudar gradualmente o ambiente. Ali, em Madri, Claret vive de maneira simples e pobre.
Esses padrões palacianos não correspondem ao espírito apostólico de Claret. Na capital, ele exerce uma intensa atividade: pregações e confissões, escreve livros, visita prisões e hospitais. Em 1859, a Rainha o nomeia como Protetor da Igreja e do Hospital de Montserrat, em Madri, bem como presidente do Mosteiro de El Escorial. Claret restaura o edifício, recupera campos produtivos para financiamento, adquire equipamentos, estabelece uma corporação de capelães, um seminário interdiocesano, uma faculdade...
Após a revolução de setembro de 1868, Claret vai para o exílio, juntamente com a Rainha. Em Paris, ele continua seu ministério com a Rainha e com os Príncipes das Astúrias. Funda ali as Conferências da Sagrada Família e dedica-se a inúmeras atividades apostólicas, principalmente voltadas para os imigrantes.
Em 1869, por ocasião dos trabalhos preparatórios do Concílio Vaticano I, Claret se despede da família real e transfere-se para Roma. Ali passa a viver no convento dos Mercedários. No Concílio, é apaixonado defensor da infalibilidade do Papa.
Após as sessões do Concílio, com a saúde debilitada, muda-se para comunidade que seus missionários, exilados da Espanha, haviam fundado na França. Ainda perseguido e forçado a ser levado para a Espanha por opositores da Coroa, Claret refugia-se no mosteiro cisterciense de Frontfroide, perto de Narbonne, na França.
É ali em Frontfroide, cercado pelos monges cistercienses e alguns missionários claretianos, que Claret morre, aos 62 anos de idade, no dia 24 de outubro de 1870.
Seus funerais ocorrem com muita simplicidade. Seu corpo é depositado em um túmulo do cemitério do mosteiro porque as autoridades civis negaram a licença para que pudesse ser sepultado na igreja. Em sua lápide, está a inscrição de Gregório VII: "Amei a justiça e odiei a iniquidade, por isso morro no desterro".
Em 1887, sob pontificado do Papa Leão XIII, é aberto seu processo de beatificação, em Vic. Em 1897, seus restos mortais são transladados para Vic e, em 1926, o Papa Pio XI reconhece e proclama suas virtudes.
Também o Papa Pio XI, em 25 de fevereiro de 1934, torna-o beato. Sua canonização ocorreu no dia 7 de maio de 1950, pelas mãos do Papa Pio XII.
OREMOS
"Ó Deus, que fortalecestes o bispo Santo Antônio Maria Claret com admirável caridade e paciência na evangelização dos povos, concedei que, por sua intercessão, busquemos o que é vosso e nos apliquemos com todo empenho em conquistar irmãos e irmãs para Cristo. Ele, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo. Amém!".
Crédito da imagem: Editora Ave-Maria.
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