Homilia da Solenidade de Nossa Senhora Aparecida
Nesta Solenidade da Bem-Aventurada Virgem Maria da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil, as leituras da Liturgia da Palavra, principalmente o Evangelho, são um convite para nos deixarmos inebriar do vinho novo trazido a nós por Jesus. Maria, a exemplo das Bodas de Caná, continua a ser a mãe intercessora da Igreja, pedindo que nós também possamos "fazer tudo aquilo" que o Senhor nos pede.
LITURGIA DA PALAVRA
1ª Leitura: Est 5,1b-2; 7,2b-3.
Salmo Responsorial: Sl 44(45), 11-12a.12b-13.14-15a.15b-16 (R.: 11 e 12a).
2ª Leitura: Ap 12,1.5.13a.15-16a.
Evangelho: Jo 2,1-11.
As leituras desta Solenidade nos dão uma visão bastante importante do que será a transição entre a Antiga Aliança (o Antigo Testamento) para a Nova Aliança (o Novo Testamento). A primeira e a segunda leitura juntamente com o salmo de resposta apresentam para nós o protagonismo das santas mulheres das Sagradas Escrituras. Isso significa para nós que o chamado de Deus à colaboração na Obra da Salvação e na História da Salvação não é exclusivamente masculina, uma vez que todos, homens e mulheres, somos filhos muito amados por Deus e feitos à sua imagem e semelhança.
A leitura tirada do Livro de Ester é de um trecho que veio para nós através de alguns trechos gregos e mostra a figura de Ester que arrisca sua própria vida ao interceder pelo povo diante do rei. Nesse sentido, a segunda leitura, do Apocalipse de São João, apresenta a mulher grávida e que sofre as tribulações do inimigo. Essa mulher pode ser entendida como sendo Nossa Senhora, que é a que, em seu "sim" trouxe-nos o Redentor, como pode ser também a própria Igreja, nossas comunidades, o que nos dá o sentido de que também somos todos chamados a gerar o Salvador em nós. Entretanto, isso não significa que não estaremos sujeitos às ciladas e artimanhas do Inimigo, nem que nossa vida será um "mar de rosas", que fica monótono também.
O Evangelho, também obra de São João, apresenta uma festa de casamento. E, neste trecho do Evangelho, temos diversas simbologias que são tiradas da Antiga Aliança (Antigo Testamento) e que já apontam para a Nova Aliança (Novo Testamento) que virá a ser inaugurada por Jesus.
A festa de casamento já é um símbolo por si só. O povo judeu, ao celebrar um casamento, através da aliança firmada entre os noivos, recorda a Aliança de Deus com a Humanidade, sua esposa. É uma festa tão significativa e importante dentro dessa cultura que ela dura, no mínimo, sete dias. Outra característica importante dentro de uma festa de casamento está no vinho. O vinho simboliza o amor e a alegria e, em uma festa que estivesse bem organizada, não poderia faltar. Entretanto, é um vinho que dá embriaguez e que traz consequências ruins no dia seguinte: o mal estar, a ressaca, entre outros.
Ao faltar o vinho, Nossa Senhora, presente antes mesmo de Jesus ali na festa, pressente a vergonha que a família iria passar. Ao se dirigir ao Filho, assume, diante da Igreja, o papel de intercessora. Este é o primeiro de dois momentos aos quais Nossa Senhora aparece no Evangelho de João. Maria aparece no início da vida pública de Jesus e no momento final de sua entrega total por cada um de nós, mostrando que Maria se faz presente nos momentos não só de alegria, mas também em nossas angústias.
As talhas de pedra representam a Lei judaica, que é imperfeita - pois o número seis na literatura bíblica simboliza a imperfeição (para entender mais sobre os números e sua simbologia nas Sagradas Escrituras, leia nosso artigo Os Números e sua Simbologia nas Sagradas Escrituras) - e está esvaziada, está seca, portanto, não responde mais ao povo. Não traz mais a purificação. Também é significativo a água que Jesus manda encher as talhas. Nos Evangelhos Sinóticos - Marcos, Mateus e Lucas - costuma-se identificar o Espírito Santo com uma pomba. Entretanto, na literatura joanina - a de São João - o Espírito Santo é identificado com a água, a mesma água que jorrará do lado de Jesus na cruz e, juntamente com o sangue, nos será a garantia da Eucaristia, pois é o Espírito Santo que, nas mãos ungidas dos padres, realiza a graça da transubstanciação das espécies eucarísticas.
O Espírito Santo é que traz para a comunidade, que se encontra em uma Lei vazia, seca e sem respostas, o vinho da Nova Lei, da Novidade de Deus, da presença, da alegria e do amor de Deus junto ao seu povo. É um vinho que nos embriaga da graça de Deus, que nos anima e nos alegra, que ajuda-nos a enfrentar as dificuldades do nosso dia a dia com leveza, com confiança, sem desistir ou se deixar abater.
As leituras desta solenidade são um alento para cada um de nós. Elas nos mostram que nossas fraquezas não são empecilho para seguir em frente. Pelo contrário, ao que vai dizer o Apóstolo Paulo, "Quando eu me sinto fraco, então é que sou forte" (2Cor 12,10), pois nossa força vem do alto.
Nesta linda festa da querida Mãe Aparecida, sintamo-nos animados em nossa caminhada diária. Ainda que encontremos tantos espinhos, tantas pedras, tantos obstáculos, nós somos capazes de retirar tudo isso da nossa vida. A Mãe Aparecida nos ajude, interceda por nós e nos cubra com seu manto para nos proteger das adversidades desta vida. E que sejamos inebriados pelo vinho novo, pelos dons do Espírito Santo.
"Ó Virgem Santa rogai por nós pecadores,
Junto a Deus Pai e livrai-nos do mal e das dores!
Que todo homem caminhe tocado pela fé,
Crendo na graça divina esteja como estiver!"
Nossa Senhora da Conceição Aparecida, rogai por nós!
Crédito da imagem: Construtores do Reino.
Homilias, Ano B, Solenidade, Nossa Senhora Aparecida, Evangelho de São João
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