Tempo da Quaresma: Jejum, esmola e oração
O Tempo da Quaresma se aproxima. Como todos os anos, é um tempo litúrgico bastante forte para a Igreja. Podemos dizer que o Tempo da Quaresma está alicerçado em três pilares, que é o que dão o "norte" da espiritualidade para este tempo: a oração, o jejum e a penitência.
O Tempo Quaresmal caracteriza-se pelo período de 40 dias que antecede o Domingo de Páscoa. Via de regra, o Tempo da Quaresma inicia-se na Quarta-feira de Cinzas, dia de jejum e abstinência de carne vermelha, conforme antiquíssima tradição da Igreja. Há uma certa controvérsia quanto ao término da quaresma: alguns colocam no Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, o que é mais seguro, tendo em vista que o período de quarenta dias se finalize nesse domingo. Contudo, com a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, o papa São Paulo VI criou o costume de extender o período da Quaresma até a manhã da Quinta-feira Santa, uma vez que, na celebração da noite desta mesma quinta-feira, abre-se o Tríduo Pascal da Quinta-feira da Instituição da Eucaristia e do Lava-Pés, da Sexta-feira da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, da mãe de todas as vigílias, a Vigília Pascal, culminando no Domingo da Ressurreição do Senhor.
Esse tempo carrega uma espiritualidade bastante característica. É um tempo marcado por forte ênfase na oração, na prática do jejum e de diversas outras penitências. Isso faz do Tempo da Quaresma um dos tempos litúrgicos mais introspectivos da liturgia da Igreja; é um tempo também bastante marcado por diversos sacrifícios e penitências, bem como de um tempo marcado por diversos combates interiores contra o pecado, o que gera um tempo também de fortalecimento espiritual na caminhada dos fiéis, sendo um tempo de renúncia para as coisas que não levam e não são de Deus. Também torna-se um tempo de forte confiança no Senhor.
Dentre as diversas práticas comuns do Tempo da Quaresma, podemos elencar alguns pontos mais fortes, como:
- Jejum;
- Caridade;
- Oração;
- Penitência;
- Confissão;
- Visita aos doentes;
- Via-sacras;
- Missas.
Por que o número 40?
O número 40 traz um simbolismo bastante peculiar. Conforme as Sagradas Escrituras, os números são utilizados para dar uma mensagem específica. No caso do número 40, ele se liga à caminhada do povo no deserto por 40 anos, rumo à Terra Prometida; bem como aos 40 dias em que o Senhor sofreu as tentações no deserto. De todo modo, esse sentimento de sacrifício e de penitência sempre permeia o Tempo Quaresmal. O número 40 também nos lembra o tempo em que Moisés permaneceu no Monte Sinai para receber, do Senhor, a Lei.
O Tempo da Quaresma é um convite "[...] a aprofundar a espiritualidade quaresmal para vivenciarmos esse itinerário que o Papa Francisco, em sua homilia ao abrir esse tempo favorável assim se referiu: 'A Quaresma é o tempo para reencontrar a rota da vida. Com efeito, no caminho da vida, como em todos os caminhos, aquilo que verdadeiramente conta é não perder de vista a meta'. E ainda fez algumas perguntas: 'No caminho da vida procuro a rota?' e, citando a Palavra de Deus chama a todos para que se 'Voltem para mim, diz o Senhor.' E o Papa conclui: 'para mim: o Senhor é a meta da nossa viagem no mundo. A rota deve ser ajustada na direção d’Ele'.” (Dom Orani João Tempesta, Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, É tempo de Quaresma).
Para nós, cristãos católicos, a Quaresma é um tempo propício para o recomeço e uma possibilidade para retomar a vivência do nosso batismo. Não obstante, na Celebração da Vigília Pascal, no Sábado Santo, temos o costume de, como filhos amados por Deus, renovar nossas promessas batismais e, com alegria e fé renovadas, professar nossa fé nesse Deus que um dia se entregou, continua ainda hoje se entregando, e que sempre se entrega por cada um de nós.
O Tempo da Quaresma visa preparar a celebração da Páscoa do Senhor; a liturgia quaresmal, com efeito, dispõe para a celebração do mistério pascal tanto os catecúmenos, pelos diversos graus de iniciação cristã, como todos os demais fiéis, pela comemoração do Batismo e da penitência. A Quarta-feira de Cinzas caracteriza-se por ser a abertura do Tempo Quaresmal, e caracteriza-se por ser toda a parte do dia de jejum e no qual se faz a imposição das cinzas. Os domingos subsequentes são chamados de 1°, 2°, 3°, 4° e 5° Domingo da Quaresma, sendo o 6° Domingo chamado de Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, com o qual inicia-se a Semana Santa.
Anotações:
- No Tempo da Quaresma é proibido ornar o altar com flores. O toque dos instrumentos musicais é permitido somente para sustentar o canto. Excetuam-se, no entanto, o 4° Domingo da Quaresma (Domingo Laetare), as solenidades e as festas.
- A cor do Tempo da Quaresm é predominantemente Roxa. Pode-se utilizar no Domingo Laetare o Róseo (cf. Instrução Geral do Missal Romano, nr. 308f).
- Nos dias de semana deste Tempo, pode ser conveniente rezar no fim da Missa, antes da bênção final, a Oração sobre o povo, que para cada dia é proposta.
- Em todas as Missas e Ofícios (onde se encontrar), omite-se o Aleluia. Nas Solenidades e Festas somente, como ainda em celebrações especiais, diz-se o Te Deum e o Glória. As Memórias Obrigatórias que ocorrem neste tempo podem ser celebradas como Memórias Facultativas (cf. Anotações Gerais, nr. 2,4). Não são permitidas missas votivas.
- Na celebração do matrimônio, seja dentro ou fora da Missa, deve-se sempre dar bênção nupcial. Admoestem-se os esposos que se abstenham de demasiada pompa.
CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promove este ano, durante a Quaresma, a Campanha da Fraternidade, cuja finalidade é vivenciar e assumir a dimensão comunitária e social da Quaresma. A Campanha da Fraternidade ilumina de modo particular os gestos fundamentais desse tempo litúrgico: a oração, o jejum e a esmola. Neste ano, o tema da Campanha é "Fraternidade e Ecologia Integral", e o lema: "Deus viu que tudo era muito bom!" (Gn 1,31).
Crédito das imagens: Brasil Escola (Quaresma); Campanhas CNBB.
formação, Liturgia, Tempo Litúrgico Quaresma, Cor Litúrgica Roxo
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