Qual o Significado do Domingo de Ramos na Liturgia da Igreja?
Para aqueles que têm uma vivência litúrgica e pastoral na Igreja, sabe bem que o Domingo de Ramos abre, para nós Católicos, aquela que é a mãe de todas as semanas: a Semana Santa. Mas, você já se perguntou qual o verdadeiro sentido do Domingo de Ramos (um pouco mais para além daquele bíblico que narra a entrada do Senhor em Jerusalém) e qual o sentido da Semana Santa? Vamos descobrir juntos?
Conformes as raízes bíblicas, principalmente aquelas narradas nos Evangelhos, o Domingo de Ramos é um evento que marca alguns aspectos:
- O início da Semana Santa;
- O fim do Tempo da Quaresma;
- A Entrada Solene do Senhor em Jerusalém.
Poderíamos até mesmo colocar muitos outros aspectos, porém, os que apresentamos são bem suficientes. Vamos lá!
INÍCIO DA SEMANA SANTA
O Domingo de Ramos é a data litúrgica que marca o início da Semana Santa, que, para nós, católicos, é um período significativamente forte. Os Padres da Igreja (aqueles do período da Patrística) diziam que a Semana Santa é a mãe de todas as semanas, assim como a Vigília Pascal é a mãe de todas as vigílias (conforme nos indica a Instrução Geral do Missal Romano). Faz referência ao que os Evangelhos narram como a entrada triunfante do Senhor em Jerusalém.
Isto é extremamente significativo porque é preciso levar em consideração que muitos dos judeus esperavam esse tipo de manifestação por parte do Messias Prometido. A liturgia do Domingo de Ramos lembra a cada cristão o significado primeiro de sua fé: reconhecer aquele que é o verdadeiro e único Rei: Jesus!
O Domingo de Ramos, ao abrir a Semana Santa, evidencia para os cristãos a vigilância de que a Páscoa está próxima. Para se lembrar da entrada de Jesus em Jerusalém que, desde muito cedo, a Igreja preservou uma das chamadas procissões litúrgicas. Nesse sentido, apenas duas são as procissões litúrgicas que a Igreja reconhece: a Procissão do Domingo de Ramos e a Procissão de Corpus Christi.
As demais procissões, então, não têm valor? Mas é claro que sim! Entretanto, existem apenas duas que a liturgia permite dentro do rito da missa, que são as que já citamos. Procissões do padroeiro, da penitência etc. e mais, não deixam de ter seu valor espiritual por conta disso. Elas ajudam aos fiéis a entender que somos Igreja Peregrinante neste mundo e que, cedo ou tarde, estaremos na realidade de uma Igreja Espiritual, seja de cunho padecente, seja de cunho triunfante.
E como as nossas celebrações eucarísticas são sempre um memorial, após a procissão "até Jerusalém" que o povo ainda repete nos dias atuais, a Igreja ouve, na Liturgia da Palavra, a narrativa da Paixão de Jesus.
Há o costume de preservar os ramos utilizados para a procissão em nossas casas, que também poderão ser queimados para produzir as cinzas utilizadas na Quarta-Feira de Cinzas, que é quando a Igreja abre o Tempo da Quaresma.
Para nós, católicos, as primeiras celebrações de Domingo de Ramos datam do século 4º (quarto), quando a Igreja Católica estabeleceu quais eram os critérios para a data da Páscoa. Antes do Concílio de Nicéia, em 325, não havia um consenso sobre quando se celebrar o Domingo de Páscoa. Como um dos objetivos deste Concílio estava na unificação sobre as celebrações acerca da Ressurreição do Senhor, que apresentava diferentes visões nas mais diversas tradições, estabeleceu-se um calendário sobre a Páscoa.
Desde então, o Domingo de Páscoa passou a ser celebrado no primeiro domingo após a primeira lua cheia que ocorre no Equinócio de Primavera do Hemisfério Norte. Em geral, o Domingo de Páscoa cai entre os dias 22 de março e 25 de abril. Porém, vale lembrar, que isso é uma realidade para nós, Católicos Romanos, uma vez que, para os Católicos Ortodoxos, ela seja bem mais fixa, embora não distante da celebrada pelos Católicos Romanos. É pensando nessa prerrogativa que o Papa Francisco pretende estabelecer uma data fixa para a Páscoa.
FIM DO TEMPO DA QUARESMA
O Domingo de Ramos marca o fim do Tempo da Quaresma. Existem muitas dúvidas - AINDA - para nosso povo de quando, realmente, o Tempo da Quaresma termina. Mas, calculando, esse período inicia-se na Quarta-feira de Cinzas e transcorre 40 dias até chegar ao Domingo de Ramos. Entretanto, os Domingos não são contados. Por isso que parece meio "fora" da contagem... Portanto, contando desde a Quarta-feira de Cinzas, excetos os domingos (uma vez que é o Dia do Senhor e, portanto, não há necessidade de jejuar), termina no sábado da vigília do Domingo de Ramos.
Vale lembrar que, o Tempo da Quaresma, é um tempo de reflexão, meditação, oração e penitência. Estão presentes as práticas de caridade e de jejum para esse período. Essa tradição já remonta o século IV, e nos reporta ao número 40, bastante significativo nas Escrituras.
O 40 é um número de plenitude. Engloba uma totalidade. Podemos dizer que sejam os 4 cantos do mundo vezes o 10 que traz totalidade. Nesse aspecto, é totalidade com totalidade. Embora, o número, no Antigo Testamento, reserve os significados mais interessantes possíveis.
Isso tudo para nos dizer que o Tempo da Quaresma inicia-se na Quarta-feira de Cinzas e termina no Sábado às Vésperas do Domingo de Ramos, quando, então, adentramos na Semana Santa.
Mas, alguns dizem que a Quaresma só termina na manhã da Quinta-feira Santa... E aí?
Bom, vamos lá!
Foi o Papa Paulo VI quem determinou que a Quaresma termina na Quinta-feira Santa, tendo em vista que é o dia da Missa da Ceia do Senhor, a Instituição da Eucaristia, a Inauguração do Sacerdócio Ministerial... etc etc..., conforme uma de suas Cartas Apostólicas.
Segundo o pensamento teológico, para a Igreja, o número 40 é simbólico, recordando-nos o tempo em que Jesus passou no deserto sendo tentado. Dias que passou em jejum e em oração, refletindo sobre sua própria condição. Nesse sentido é que os 40 dias da quaresma podem ser menos ou mais.
O importante e interessante para nós católicos é que a Quaresma, assim como os demais períodos da Liturgia da Igreja, está totalmente dependente do Domingo de Páscoa, o maior de todos os domingos. A palavra Páscoa deriva do hebraico "Pessach", que significa "Passar", ou "Passagem", tendo em vista que, nossa vida, neste mundo, é uma passagem.
Em resumo, ainda que grande, é esse o sentido do Domingo de Ramos, da Semana Santa e do Tríduo Pascal. Eles são um resumo tanto da nossa fé, quanto da nossa conduta. Se, na Quaresma, fomos convidados a fazer uma caminhada com Jesus através do deserto (identificando não só nossas dores, nossos desânimos, nossas decepções, mas também a do próximo que também tem dores, também desanima, também se decepciona), na Semana Santa precisamos continuar nosso itinerário com Ele.
Eu quero a ressurreição! Sei que você também a deseja para você e sua família. Mas, antes de chegarmos lá, tem desertos para atraversarmos... Existem lutas, batalhas.... Existem alegrias (triunfo), existem decepções, traições... Jesus nunca disse que "será fácil!"... Mas, a humanidade constatou uma coisa: "Vale a pena!".
Domingo de Ramos, Semana Santa
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